Carta abierta de Roberto “Tito” Cossa a Alberto Fernández: uma tradução

Tradução de Rodrigo Conçole Lage

      Graduado em História (UNIFSJ)

                    Especialista em História Militar (UNISUL) 

          rodrigoconole@yahoo.com.br

PDF

Esta carta foi publicada originalmente no jornal Página/12[i], do dia 21 de novembro de 2019, pelo dramaturgo argentino Roberto Tito Cossa. Esta carta foi dirigida ao atual presidente da Argentina, Alberto Ángel Fernández, eleito em 2019. É uma crítica ao projeto neoliberal do governo de Mauricio Macri e a situação na qual ele deixou a Argentina, assim como alguns conselhos e sugestões para o novo presidente.

 

Carta aberta a Alberto Fernández de Roberto “Tito” Cossa[ii]

Senhor presidente eleito:

          Pertenço aos milhões de argentinos que desde há quase quatro anos vivem um pesadelo. Minha via crucis não é econômica; é ideológica e cultural.[iii] Não suporto este bando de farsantes, soberbos e ignorantes que nos dizem que o futuro depende do esforço pessoal, o mesmo para um garoto que nasce na miséria e outro que se educa no Cardenal Newman[iv]. Governaram quatro anos e deixaram um país destruído.

          Senhor presidente: Todos nós sabemos que não vai ser fácil sair deste desastre. Deixam a terra arrasada, mas mantém todo o poder e vão utilizá-lo para que seu governo enfrente serias dificuldades.

          É aí que começam os temores. Nunca mais o neoliberalismo. Nunca mais?

          Lamentavelmente boa parte dos povos carece de cultura política. No Brasil, depois de Lula, votaram em Bolsonaro. Na década de 30 do século passado o mundo acreditava que os alemães, tão civilizados eles, escutavam a Beethoven e liam Goethe. Faz tempo que penso que só uma palavra salvará à humanidade. Você a disse, a pronunciou Cristina, a vociferou Axel[v]:

S-O-L-I-D-A-R-I-E-D-A-D-E.

          Felizmente, nosso país conserva reservas de solidariedade. Fica claro nestes tempos de restaurantes comunitários e movimentos sociais. Sempre recordo quando, em 2013, dez mil jovens vieram das ajudas aos vizinhos de La Plata. Naquele dia, pensei, avançamos rumo a um país civilizado.

          Mas chegou o macrismo[vi].

          Ocorre-me que nós os solidários temos que organizar-nos, mesmo que não ocorra uma catástrofe. Seria possível abrir um censo aonde nós os que queremos colaborar nos inscrevêssemos registrando nossa especialidade e o tempo que dispomos? Uma hora por semana? Está bem, porque o que vale é a ajuda. E todos nós podemos ser úteis, desde conversar com um velho que está sozinho até ser babá das crianças de uma mulher que tem que ir trabalhar. Alfabetizar, dar-lhes conhecimentos básicos de profissões que lhes interessem; desde já, médicos e enfermeiras [,][vii] músicos e pintores e até treinadores de futebol. Esse censo se entregaria aos movimentos sociais, aos padres das favelas, a todos os que conhecem as necessidades de cada vizinho.

          Além da ajuda concreta, nós veríamos os rostos uns dos outros. Eles comprovariam que há satisfeitos que os levam em conta, que estão dispostos a ajudá-los, a aliviar – mesmo que seja em parte – seus padecimentos. Nós, tomaríamos contato com uma realidade que fazemos. Seria uma verdadeira aprendizagem.

          A utopia socialista fracassou. Vamos para a piedade?

          O saúda com um forte abraço esperançoso,

 

         Roberto “Tito” Cossa.

 

 

 Carta abierta a Alberto Fernández de Roberto “Tito” Cossa

Señor presidente electo:

          Pertenezco a los millones de argentinos que desde hace casi cuatro años vivimos una pesadilla. Mi vía crucis no es económico; es ideológico y cultural. No soporto a esta pandilla de truhanes, soberbios e ignorantes que nos dicen que el futuro depende del esfuerzo personal, lo mismo para un chico que nace en la miseria a otro que se educa en el Cardenal Newman. Gobernaron cuatro años y dejaron un país destruido.

          Señor presidente: Todos sabemos que no va a ser fácil salir de este desastre. Dejan tierra arrasada, pero mantienen todo el poder y lo van a utilizar para que su gobierno afronte serias dificultades.

          Es ahí cuando empiezan los temores. Nunca más el neoliberalismo. ¿Nunca más?

          Lamentablemente buena parte de los pueblos carecen de cultura política. En Brasil, después de Lula, votaron a Bolsonaro. En la década del 30 del siglo pasado el mundo creía que los alemanes, tan civilizados ellos, escuchaban a Beethoven y leían a Goethe. Hace tiempo que pienso que solo una palabra salvará a la humanidad. Usted lo dijo, lo pronunció Cristina, la vociferó Axel:

S-O-L-I-D-A-R-I-D-A-D.

          Afortunadamente nuestro país conserva reservas solidarias. Queda claro en estos tiempos de comedores comunitarios y movimientos sociales. Siempre recuerdo cuando, en 2013, diez mil jóvenes acudieron a prestar ayuda a los vecinos de La Plata. Ese día, me dije, avanzamos hacia un país civilizado.

          Pero llegó el macrismo.

          Se me ocurre que los solidarios tenemos que organizarnos, aunque no ocurra una catástrofe. ¿Sería posible abrir un padrón donde los que queremos colaborar nos anotemos consignando nuestra especialidad y el tiempo que disponemos? ¿Una hora por semana? Está bien, porque lo que vale es la ayuda. Y todos podemos ser útiles, desde charlar con un viejo que está solo hasta cuidarle los críos a una mujer que tiene que ir a trabajar. Alfabetizar, aportarles conocimientos básicos de oficios que les interesen; desde ya, médicos y enfermeras músicos y pintores y hasta entrenadores de futbol. Ese padrón se les entregaría a los movimientos sociales, a los curas villeros, a todos los que conocen las necesidades de cada vecino.

          Además de la ayuda concreta, nos veríamos las caras unos a otros. Ellos comprobarían que hay satisfechos que los tienen en cuenta, que están dispuestos a ayudarlos, a aliviarles –aunque sea en parte – sus padecimientos. Nosotros, tomaríamos contacto con una realidad que cocemos. Sería un verdadero aprendizaje.

          La utopía socialista fracasó. ¿Vamos hacia la piedad?

         Lo saluda con un fuerte abrazo esperanzador,

 

          Roberto “Tito” Cossa.

 

 

[i] Disponível em: <https://www.pagina12.com.ar/232198-carta-abierta-a-alberto-fernandez>. Acesso em: 15 fev. 2020.

[ii] O dramaturgo falou a respeito da carta em uma entrevista na “Radio Cut”, no programa “El mediodía con Carlos Polimeni” A rádio disponibilizou a gravação dela na internet. Disponível em: <https://ve.radiocut.fm/audiocut/roberto-tito-cossa-dramaturgo-en-elmediodiaconcarlospolimeni/#>. Acesso em: 15 fev. 2020.

[iii] Os negritos no corpo do texto fazem parte do original.

[iv] O “Colegio Cardenal Newman” foi aonde o ex-presidente argentino Mauricio Macri estudou. É uma escola particular laica, mas de orientação católica, bilíngue, para meninos, localizada em Boulogne, San Isidro, na Província de Buenos Aires. Disponível em: <https://abcenlinea.com.ar/como-es-y-cuanto-cuesta-el-colegio-cardenal-newman-al-que-fue-mauricio-macri/>.

[v] Suponho que esteja se referindo ao filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth. Ele dá muita importância a questão da solidariedade.

[vi] Movimento político de direita que surgiu na Argentina, em 2003, tem caráter neoliberal e populista que tem como base a ideologia do ex-presidente Mauricio Macri.

[vii] No site o texto está sem vírgula.

 

 

Images are for demo purposes only and are properties of their respective owners.
Old Paper by ThunderThemes.net

Skip to toolbar