CONVERSANDO COM LUCRÉCIA E NEGRINHA: DOIS CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA NA LITERATURA BRASILEIRA

Nalu da Silva Rocha, 

André Cordeiro

Universidade Federal do Tocantins (UFT)

 
 
Nos contos “O caso da vara” e “Negrinha”1, Machado de Assis e Monteiro Lobato, respectivamente,apresentam-nos duas situações marcantes de violência contra a criança negra, do sexo feminino, na literatura brasileira. Através destes contos, pode-se refletir um pouco sobre a educação informal dada à criança no período da escravidão.

Primeiramente, quem são Lucrécia e Negrinha? Os narradores assim as descreveram:

Damião olhou para a pequena: [Lucrécia] era uma negrinha, magricela, um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda. Contava onze anos. (Assis 4)
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos […] Assim cresceu Negrinha – magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados […] O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões […] (Lobato 78-79)

As meninas carregam suas histórias de vida escritas em seus corpos. As marcas são também pedaços de narrativas que se advinham sobre a pele. Nem tudo é dito com palavras no texto literário, muita coisa se preenche, se infere. No caso delas, muito se diz através da expressão do olhar, do físico e, sobretudo, das tatuagens que as aproximam de forma cruel.

Um motivo dinâmico de conflito logo surge, nas primeiras páginas destes dois contos, a sinalizar ao leitor o desenrolar da ação, as senhoras da casa são bravas e impacientes: “Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e sete nos olhos. Era apessoada, viva, patusca, amiga de rir; mas, quando convinha, brava como o diabo […]” (Assis 3) (os grifos são nossos). Para Machado de Assis, a ação só existe porque está, primeiramente, nos caracteres dos personagens. Sinhá Rita é brava e isto verificar-se-á ao longo do conto. A coerência da ação narrativa, segundo o Machado de Assis crítico, é essencial para a identificação entre leitor e a obra. 2 Em “Negrinha”, por sua vez, já no terceiro parágrafo destaca-se de forma irônica:

Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. (Lobato 78)

Negrinha e Lucrécia serão afligidas física e psicologicamente pelas senhoras que as educam, as duas crianças sofrem castigos corporais e humilhações. Os castigos variavam desde puxões de orelha, beliscões no umbigo, pontapés, safanões, surras com varas de marmelo e, ainda, os “cocres” que Dona Inácia adorava desferir em Negrinha. A nomeação dos castigos é somente detalhada por Lobato, mas pelas marcas no corpo de Lucrécia e pelo que retratam documentos e livros históricos esta era uma realidade recorrente no caso das crianças negras:

O adestramento da criança também se fazia pelo suplício. Não o espetaculoso, das punições exemplares (reservada aos pais), mas o suplício do dia a dia, feito de pequenas humilhações e grandes agravos. Houve crianças escravas que, sob as ordens dos meninos livres, puseram-se de quatro e fizeram-se de bestas. Debret não pintou esse quadro, mas não é difícil imaginar a criança negra arqueada pelo peso de um pequeno escravocrata. Machado de Assis levou-a para a literatura. Lá está ela […], a receber lanhadas do dono.”(Góes; Manolo 185-186)

Em “O caso da vara”, Lucrécia (a pequena rendeira) será agredida por conta do atraso do trabalho em sua almofada. Negrinha é filha de mãe escrava e órfã. Sofre os mais variados castigos físicos e humilhações – tanto por parte da dona da casa, quanto da parte dos empregados. Fica horas a fio na sala ao lado de dona Inácia e não tem, em momento algum, oportunidade de brincar: “Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.”(Lobato 79) A pequena sofre todos esses castigos, não necessariamente em decorrência da aprendizagem de um trabalho manual no âmbito de uma educação informal. Na verdade, Dona Inácia, antiga senhora de escravos, encontra em suas maldades uma mistura de prazer e terapia:

O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
– Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!… (Lobato 80)

São vários e vários os pretextos para, também em nome da boa educação da órfã, dona Inácia exercer o seu sadismo. Os castigos impingidos à Negrinha aliviam alma da malvada mulher, servem “para desobstruir o fígado e matar as saudades do bom tempo.” Como os pequenos escravocratas, que montaram sobre as crias da casa, a velha senhora joga-se em fúria sobre Negrinha. O garoto Brás Cubas exerceu esta prática com o menino escravo de sua casa e também montou sobre ele. A senhora, já adulta, revive esta prática lúdica e tirânica ao tratar a garotinha como a um brinquedo. A menina negra que nunca brincara e que jamais tinha visto uma boneca de pano ou de louça, como o leitor saberá ao final do conto, era ela própria tratada e judiada como a uma boneca – não de pano, porém de carne e osso. Ela vivia, horas a fio, sentada num canto da sala ao pé da senhora, enquanto esta bordava ou recebia visitas, e sua única diversão era olhar, de hora em hora, o cuco do relógio. Muitas horas, absolutamente imóvel com seus olhos assustados. Negrinha era uma boneca triste.

 

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Figura 1

 

A babá adolescente, na figura 1, parece mais carregar uma boneca de louça sobre suas costas. As duas não estão lá muito contentes, mas não deixam de demonstrar certa cumplicidade. Olham na direção do fotógrafo fixamente, talvez um pouco fatigadas porque a realização de uma fotografia não era instantânea como nos dias de hoje. Tirar uma fotografia demandava alguns minutos. Assim, era preciso guardar um pouco da emoção inicial até que tudo estivesse terminado.

Fotografias desta natureza, muitas vezes, procuram registrar poses sugeridas pelo fotógrafo. E, nesta imagem, parece que se dá uma mistura de pose com uma brincadeira do dia a dia. Registra-se um divertimento comum entre crianças (pelo menos até certo tempo atrás), de uma montar sobre a outra. Quem está por baixo deve agir como um cavalo ou burrico e aceitar o comando.

Aproveitando a atmosfera estranha e lúdica nos proporcionada por dona Inácia anteriormente: talvez seja esta uma antiga foto dela? Sim. Guardada num antigo álbum de família, uma foto dos seus saudosos tempos áureos? Certamente…, a menina inocente aprendeu desde cedo a dominar os seus escravos, mesmo nas brincadeiras e situações mais ingênuas. Em todos os aspectos de sua vida e nas mais singelas recordações, parece estar explícita a sua superioridade, o seu domínio de senhora escravocrata. A foto da babá negra com a criança nos leva a reencontrar Brás Cubas, uma quem sabe pequena dona Inácia e tantas outras crianças negras e brancas que vivenciaram em suas brincadeiras os traços da escravidão no Brasil./p>

O castigo era uma prática tanto da educação informal, quanto da educação formal. Nos estabelecimentos educacionais, como também apresentou Machado de Assis em “Conto de escola”, a palmatória era uma regra. E quando da proibição desta prática nas escolas, ainda no século XIX, os próprios pais continuaram a exigi-la das instituições, porque acreditavam só ser bom professor os que faziam constante uso da férula:

A palmatória e o castigo físico eram condizentes com a única forma social reconhecida de manifestação da autoridade, espelhava a brutalidade das relações de domínio da época, na política, no trabalho, no exército, na família e no casal; a palmatória, no imaginário social, comportava-se como um emblema da profissão docente, enquanto expressão do direito legítimo de comando, uma espécie de crédito moral suplementar emprestado aos mestres pelas famílias. (Souza 86)

O mesmo instrumento de castigo, a palmatória, aplicado nas escolas às crianças brancas também era utilizado para castigar os escravos no ambiente doméstico, como retratou Rugendas. Mas não apenas a palmatória, os instrumentos de suplício eram bastante variados. Segundo Debret, o castigo físico era destinado apenas aos escravos adultos. As crianças negras eram tratadas na sociedade brasileira de uma forma amena até a uns seis anos de idade:

Debret também disse que as crianças cativas, até os seis anos, viviam em “igualdade familiar”. E, como [Maria] Graham, achava que a maneira como na casa senhorial se tratavam crianças cativas, à semelhança de membros da família, de iguais, findava por estragá-las para a escravidão. Eram deixadas livres nos primeiros anos, “a comer, beber e correr”. É fácil perceber como os dois europeus tinham dificuldade em compreender realmente o que se passava na vida das crianças escravas. Afinal, pode-se comer e beber de muitos modos, assim como se pode correr de muitas coisas. (Góes; Manolo 187)

O artista deixou sobre o Brasil obras como estas:

 

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Figura 2

 

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Figura 3

 

Observando a imagem 2, há, na cena, escravos, senhores brancos, cadeiras, uma mesa com alimentos, louça, uma garrafa de vinho, taças e, no primeiro plano, crianças negras. O casal de senhores brancos come em uma mesa um tanto quanto imponente, utiliza uma louça razoável e bebe vinho em taças. Há, realmente, certo requinte nesta atmosfera – também pela negra que aplica o abanador trajada com belas roupas e colares e ainda pelo escravo de braços cruzados e vestido também de forma elegante – no entanto, o senhor come de forma arqueada e pega no talher de forma desajeitada. Ele e a mulher estão calçados e isto os diferencia dos escravos, os quais costumeiramente não andavam calçados. A senhora da casa apresenta-se, como o senhor, vestida com distinção. Porém, assim como este, também está curvada, mas realiza distraidamente uma ação central: alimenta uma criança (o punctum3 da cena, termo utilizado por Roland Barthes quando tratou de fotografia em A câmara clara, é esta mão que alimenta). Os olhos do expectador percorrem todos os detalhes e encontram até mesmo uma figura de mulher ao fundo ou distraem-se com o olhar fixo do homem negro. Olhos atentos e estudiosos percorrem cada detalhe desta janela que se abre para o século XIX, mas estes mesmos olhos sempre retornam para a ação da senhora e das duas crianças. A outra criança, sentada, também está comendo, talvez ela já tenha sido alimentada anteriormente pela mulher. Ela os alimenta como se eles fizessem parte da família ou como se fosse pequenos animais de estimação que se divertissem ao ganhar alimentos ou a comer as migalhas caídas no chão. O senhor não parece incomodado pela ação da senhora, ele faz sua refeição como se aquela fosse uma situação quotidiana. Ela parece ter prazer em alimentar as crianças e o autor da pintura fez questão de dar a elas um ar displicente, também para dialogar com este “mau comportamento da senhora” e a pose estranha do senhor. A mensagem final da cena é a seguinte: os brasileiros tinham péssimos hábitos à mesa e crianças mimadas não poderiam jamais resultar em bons escravos.

A imagem 3, também, nos apresenta aspectos do quotidiano de uma família brasileira no período da escravidão. A senhora e a filha estão em uma sala com suas escravas (sentadas nas esteiras), enquanto estas últimas executam pequenos trabalhos manuais. No entanto, bebês negros, ao centro, fazem uma pequena algazarra típica de sua idade. Todos os componentes da cena parecem contentes e alguns esboçam um leve sorriso, como no caso da senhora e das duas escravas. Ambas se divertem com a suave balbúrdia dos dois pequenos? Negrinha tem sete anos, já não é um bebê, mas tal situação apresentada por Debret não foi, de forma alguma, a sua realidade:

Assim cresceu Negrinha – magra, atrofiada, com olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a ideia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. […] (Lobato 79)

Que ideia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo – não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim – por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida – nem esse de personalizar a peste… (Lobato 79)

Negrinha sofre pelo sadismo de dona Inácia. Lucrécia, por sua vez, é agredida porque é a criança que já se insere no mundo do trabalho, mas ainda não tem a seriedade da mulher adulta e, sendo assim, será castigada:

Quis [Sinhá Rita] alegrar o rapaz, e,apesar da situação, não lhe custou muito. Dentro de pouco, ambos eles riam, ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe outras, que ele referia com singular graça. Uma destas, estúrdia, obrigada a trejeitos, fez rir a uma destas crias de Sinhá Rita, que esquecera o trabalho, para mirar e escutar o moço. Sinhá Rita pegou de uma vara que estava ao pé da marquesa, e ameaçou-a: – Lucrécia, olha a vara! (Assis 4)

Assim como o padre que costuma visitar dona Inácia, em “O caso da vara” também há um “religioso”. O jovem Damião fugiu do seminário e nesta tarde veio pedir ajuda a Sinhá Rita. Esta era uma viúva e mantinha uma provável ligação amorosa com João Carneiro, padrinho de Damião. O rapaz acreditava na possibilidade do padrinho interceder por ele, junto a seu pai, “- […] Ela manda chamar meu padrinho, diz-lhe que quer que eu saia do seminário… Talvez assim…” (Assis 2) Ele chegou a casa e a sala estava cheia de meninas, neste momento Rita trabalhava em sua sala ensinando-lhes afazeres manuais. Ela “vivia principalmente de ensinar a fazer renda, crivo e bordado.” (Assis 3) Entre as muitas meninas, não se sabe se todas são negras ou mesmo escravas, está Lucrécia, uma “cria” da casa. Ela é uma das personagens centrais desse conto. Segundo o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, cria refere-se ao “escravo criado na casa do senhor” ou à “pessoa, em geral pobre, criada na casa de outrem” (578). A menina negra de apenas 11 anos parece dar os seus primeiros passos rumo à profissionalização. No ensaio, “Crianças escravas, crianças dos escravos” José Roberto Góes e Manolo Florentino mencionam:

Por volta dos 12 anos, o adestramento que as tornava adultos estava se concluindo. Nesta idade, os meninos e as meninas começavam a trazer profissão por sobrenome: Chico Roça, João Pastor, Ana Mucama. Alguns haviam começado muito cedo. O pequeno Gastão, por exemplo, aos quatro anos já desempenhava tarefas domésticas leves na fazenda de José Araújo Rangel. Gastão nem se pusera de pé e já tinha um senhor. Manoel, aos oito anos, já pastoreava o gado da fazenda de Guaxindiba, pertencente à baronesa de Macaé. Rosa, escrava de Josefa Maria Viana, aos 11 anos de idade dizia-se ser costureira. Aos 14 anos, trabalhava-se como um adulto. (187)

Lucrécia, sendo ou não uma escrava, está atrelada ao mundo do trabalho e a um processo informal de educação. É muito provável tratar-se de uma cativa, pois Sinhá Rita parece exercer sobre ela um poder de vida e de morte. Os maus tratos, como as queimaduras, mencionados pelo narrador, nos fazem entrever alguns dos “pequenos castigos” suscetíveis de serem impingidos a uma criança escrava. Como Josefa Maria, mencionada acima, Lucrécia também tem 11 anos e as responsabilidades (cobranças) a ela atribuídas são as mesmas que se atribuiriam a um adulto. O conhecimento das tarefas agregava valor à criança escrava, prepará-las para o mundo do trabalho era essencial:

O aprendizado da criança escrava se refletia no preço que alcançava. Por volta dos quatro anos, o mercado ainda pagava uma aposta contra a altíssima mortalidade infantil. Mas ao iniciar-se no servir, lavar, passar, engomar, remendar roupas, reparar sapatos, trabalhar em madeira, pastorear e mesmo em tarefas do eito, o preço crescia. O mercado valorava as habilidades que aos poucos se afirmavam. Entre os quatro e os 11 anos, a criança ia tendo o tempo paulatinamente ocupado pelo trabalho que levava o melhor e o mais do tempo, diria Machado. (Góes; Manolo 184-185)

Negrinha, com apenas sete anos, sofre maus tratos em decorrência do sadismo de dona Inácia e de seu “interesse” em lhe propiciar uma boa educação (como na ocasião na qual a senhora lhe colocou um ovo quente na boca, por ter respondido mal a uma empregada da casa). Mesmo o trabalho manual desenvolvido pela menina parece ser introduzido numa relação direta com a necessidade que dona Inácia tem em vê-la sofrer: “Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.” (Lobato 79) Lucrécia, no entanto, vive com uma senhora brava, mas ainda assim alegre e divertida. E as cobranças sobre a cria da casa giram, acima de tudo, em torno de sua produção dentro do tempo estabelecido. Ela tem uma tarefa a ser cumprida, quase ininterruptamente, ao longo de todo o seu dia, e não pode falhar em hipótese alguma.

 

A negação da expressividade em Lucrécia e Negrinha.

Sobre a negação da expressividade em Lucrécia e Negrinha, seria mais apropriado começar pelo não-nome atribuído a Negrinha. Ela não tem um nome propriamente no conto, é chamada apenas por um termo pejorativo que desqualifica sua etnia. A negação da expressividade em Negrinha começa, assim, por uma ausência. Na verdade, eram muitos os apelidos com os quais a “mimoseavam” na casa. Pinçaram uma destas muitas pérolas e a batizaram.

Sobre o termo negrinha, em determinado momento de “O caso da vara”, o mesmo também é empregado pelo narrador ao descrever Lucrécia: “Damião olhou para a pequena; era uma negrinha, magricela […]”(Assis 4) E negrinha, como no conto de Monteiro Lobato, é também um diminutivo que soa não apenas como diminutivo. Ganha ares de algo reles, não unicamente menor, mas pejorativo mesmo.

A negação da expressividade em Lucrécia e Negrinha envolve não apenas o castigo físico e as horas a fio consumidas, pela execução de uma tarefa ou por conta da maldade gratuita, mas ainda a linguagem verbal. Elas não podem falar, chorar ou rir:

Antes do fim, Sinhá Rita pediu a Damião que contasse certa anedota que lhe agradara muito. Era a tal que fizera rir Lucrécia.
– Ande, senhor Damião, não se faça de rogado, que as moças querem ir embora [Sinhá Rita tinha recebido algumas visitas após a chegada do seminarista]. Vocês vão gostar muito.
Damião não teve remédio senão obedecer. Malgrado o anúncio e a expectação, que serviam a diminuir o chiste e o feito, a anedota acabou entre risadas das moças. Damião, contente de si, não esqueceu Lucrécia e olhou para ela, a ver se rira também. Viu-a com a cabeça metida na almofada para acabar a tarefa. Não ria; ou teria rido para dentro, como tossia. (Assis 5)

– Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero. (Lobato 78)

Ambas vivem no silêncio, Lucrécia deve doar-se inteiramente ao trabalho. A piada está sendo contada, mas ela não pode tomar parte em nada ali. Não há infância, não há graça ou sorriso de menina. Todas as suas energias devem ser dedicadas ao trabalho. E se ri, talvez ria para dentro, assim como tossia. Negrinha é a criança pequena que vivendo ao lado da mãe, na casa da patroa, deve praticamente anular-se. Só terá serventia para dona Inácia após a morte de sua mãe. A senhora tomará conta da órfã e a castigará sistematicamente. Por todo o conto, chamam a atenção sobre Negrinha seus eternos olhos assustados. E a respeito deles, o narrador falará várias vezes.

Lucrécia ri para dentro e encontra amparo em seu mundo silencioso, Negrinha também só vive por dentro e encontra algum consolo no cuco do relógio com o qual brinca na sua imaginação: “Como seria bom brincar! – refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco.” (Lobato 78) Apenas a chegada da boneca lhe dará alguma alegria verdadeira. Segundo o narrador, é quando ela descobre ter uma alma. Um vez feita esta descoberta, não poderá mais viver naquele seu antigo mundo. Como em “O caso da vara”, visitas alteraram o percurso do conto “Negrinha”:

Chegaram as malas e logo:
– Meus brinquedos!- reclamaram as duas meninas.
Uma criada abriu-as e tirou os brinquedos. Que maravilha! Um cavalo de pau!… Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão elegante. Um cavalinho! E mais… Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos… que falava “mamã”… que dormia…
Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem se quer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
[…]
E dominada pelo enlevo, num momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la. 
[…]
Como é boba!- disseram – E você como se chama?
– Negrinha.
As meninas novamente torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram, apresentando-lhe a boneca: – Pegue! (Lobato 81-82) (os grifos são nossos)

Dona Inácia, a princípio, antes desta cena da boneca, deu uns bons beliscões no umbigo de Negrinha, pois esta teria achado que brincar já não era proibido por conta da chegada das meninas louras. No entanto, não era bem assim. As meninas eram paparicadas, podiam brincar…, ela não. Mas o enlevo de Negrinha com a boneca foi supremo. Então, dona Inácia, pelo menos por um momento, desarmou-se:

Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa […]
Mas era tal a alegria dos hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se.
[…] –
Vão todas brincar no jardim, e vá você também, mas veja lá, hein? (Lobato 82)

Esta cena de Negrinha e da boneca é reencontrada no quadro Fascinação (fig. 4), de Pedro Peres, pintado alguns anos antes da publicação do conto. Monteiro Lobato foi um grande amante da pintura e teria cursado belas-artes, caso seu avô não o tivesse proibido deste projeto e o persuadido a estudar direito. Talvez Lobato nunca tenha visto este quadro, hoje na Pinacoteca do Estado de São Paulo, mas ele dialoga, de forma realmente surpreendente, com esta passagem do conto “Negrinha” agora tratada neste trabalho.

 

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Figura 4

 

Uma menina negra, talvez escrava, está descalça e observa enlevada uma boneca loura sentada sobre uma cadeira em uma casa luxuosa. Os pezinhos abertos da garota, meio desajeitados, e os braços (um na cintura e o outro amparando-a na parede) em tudo nos transmitem a força deste bem provável primeiro encontro. Uma menina e uma boneca, um brinquedo caro que certamente não é e jamais será seu. Ela está extasiada, fascinada como o próprio nome do quadro já diz. A boneca encontra-se ricamente vestida, está sentada sobre uma cadeira requintada. É altiva, é loura, parece olhar para cima e em tudo contrasta com as roupas simples da menina meio “boba”, no dizer das sobrinhas de dona Inácia. A menina parece estar quase sem respirar. Tem os lábios fechados, praticamente nem consegue sorrir porque é quase inenarrável a sua surpresa e o seu “outramento” (termo cunhado por Fernando Pessoa) diante da boneca. Seus olhos, como os olhos assustados de Negrinha, fixos na boneca, concentram toda a força do quadro. As cores da obra são alegres e vívidas, como a dizer também que este é um momento único e novo. A menina está congelada, magnetizada pela boneca. Quem sabe, espere apenas por um convite… “Pegue!”

Segundo o narrador, Negrinha “percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma.” (Lobato 83) Com a partida das meninas, ela caiu numa grande tristeza. “Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos.”(Lobato 83) Tudo mudaria na vida de Negrinha a partir do encontro com a boneca e com a possibilidade de ser criança.

 

O desfecho dos contos

O desfecho de “O caso da vara” guarda o elemento surpresa. Damião havia se prometido que protegeria Lucrécia, mas ele precisava da ajuda de Sinhá Rita e preferiu não contrariá-la no momento do clímax e desenlace final:

– Me acuda, meu sinhô moço! [esta é a fala de Lucrécia]
Sinhá Rita, com a cara em fogo e os olhos esbugalhados, instava pela vara, sem largar a negrinha, agora presa de um acesso de tosse. Damião sentiu-se compungido; mas ele precisava tanto sair do seminário! Chegou à marquesa, pegou na vara e entregou a Sinhá Rita. (Assis 7)

Trata-se de uma situação limite, na qual o leitor divide com Damião o dilema de entregar ou não a vara a Sinhá Rita. Todos torcemos por Lucrécia, assim como o próprio Damião. Porém o narrador machadiano exige sempre mais de seu leitor e desestabiliza a situação totalmente. Se o rapaz a ajudasse, ele poderia prejudicar-se para o resto de sua vida. Perderia o apoio de Sinhá Rita e voltaria, querendo ou não, para o seminário de onde havia fugido. Damião entrega, assim, a vara e o conto se conclui. Fica subentendido o castigo da menina Lucrécia com a vara. Provavelmente de marmelo, a qual, no dizer do narrador do conto “Negrinha” (nesta passagem confunde-se a fala do narrador com o pensamento/fala de dona Inácia): “A vara de marmelo, flexível, cortante: para ‘doer fino’ nada melhor!” (Lobato 80)

Em “Negrinha”, a menina morrerá de tristeza com a partida da boneca. O desenlace é mágico, etéreo como o que se dá em “A menininha dos fósforos”, de Andersen:

Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto,ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas louras, de olhos azuis. E de anjos… E bonecas e anjos redemoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça – abraçada, rodopiada. (Lobato 83)

Negrinha, agora voltando-nos para uma realidade bem brasileira, parece ser, guardada as devidas proporções, uma versão feminina do conto popular do Sul do Brasil, “O Negrinho do Pastoreio”. Eles aproximam-se não apenas por seus não-nomes. Mas pelo sofrimento e pela maldade extrema de seus senhores. Negrinha não foi morta diretamente por dona Inácia, no entanto os castigos sofridos a aproximam do Negrinho.

No estudo do conto “O Negrinho do pastoreio” – obra fixada entre o conto e a conhecida lenda do Sul do Brasil, do escritor João Simão Lopes Neto, Ligia Chiappini dialoga com Hegel para tratar da relação entre o senhor e o escravo:

No célebre capítulo da Fenomenologia do Espírito, em que Hegel trata dessa oposição [senhor /escravo], a princípio o senhor nos aparece como um ser para si, enquanto o escravo aparece como um ser para outro, anulando-se como ser para si, pela dominação que o reduz à coisa. Mas, sob essa aparência, o desenvolvimento do raciocínio filosófico vai revelando as essências e invertendo as posições; porque, se o senhor é uma consciência para si, está em relação com as coisas de que usufrui (e, por aí, consigo mesma) pela mediação de uma outra consciência, do escravo, para quem é essencial a síntese operada entre ele próprio e a coisa, através do seu trabalho.
Como a mediação é essencial para a consciência de si e como o auto-reconhecimento do senhor deve passar por uma consciência exterior a si, ele é dependente do escravo. Por um lado ele é o poder que domina essa consciência negativa, anulando-a; por outro, ao ser mediado por ela na sua relação com o objeto do seu desejo, é por ela dominado. (Chiappini 266-267) (grifos nossos)

Dona Inácia também estabeleceu uma relação de dependência com Negrinha. Sua ligação com a menina funciona como possibilidade de aplacar a sua sede de violência, mas ainda assim trata-se de uma relação de dependência. A menina representava para ela a alternativa de praticar atos inaceitáveis numa sociedade já não escravocrata: “Como era boa para um cocre!…” A prática da violência para ela era tal qual um vício e a menina funcionava como sua oportunidade de vivenciar este ato sob os auspícios da caridade e da proteção da igreja. O narrador, neste sentido, é extremamente irônico. Dona Inácia finge-se de cristã para praticar a tortura.

Lucrécia e Negrinha, felizmente, são apenas duas meninas de papel. Mas nos propiciam, com toda certeza, novos ângulos de observação da educação informal da criança escrava ou filha de escravos no Brasil. A indiferença em relação à criança foi hábito mais comum do que muitos de nós podemos imaginar. Na sociedade medieval, o sentimento da infância inexistia (isto deve ser interpretado de forma diferente do não gostar). E apenas nos séculos XVI/XVII, por exemplo, as crianças das classes superiores ganhariam um traje especial, diferente dos de uma pessoa adulta e se admitiria existir nelas uma personalidade / particularidade diferenciada. Assim, quando Lucrécia é cobrada como se fosse uma pessoa adulta isso não é tão novo:

Na sociedade medieval […] o sentimento da infância não existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por essa razão, assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes. Essa sociedade de adultos hoje em dia muitas vezes nos parece pueril: […] ela era em parte composta de crianças e de jovens de pouca idade. (Ariès 156) (os grifos são nossos)

Assim, esse tratamento mais arcaico dado à criança escrava, logo inserindo-a no mundo do trabalho,era a prática comum no Brasil. Mas há um novo sentimento da infância que “desde o século XIV, uma tendência do gosto procurava exprimir na arte, na iconografia e na religião (no culto dos mortos) a personalidade que se admitia existir nas crianças, e o sentido poético e familiar que se atribuía à sua particularidade.”(Ariès 157) Esta nova forma de interpretar a infância, que vai resultar nos paparicos, obviamente seria mais aplicada às crianças brancas, como se observou no tratamento diferenciado dado para as sobrinhas de dona Inácia: “Um novo sentimento da infância havia surgido, em que a criança, por sua ingenuidade, gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração e de relaxamento para o adulto, um sentimento que poderíamos chamar de ‘paparicação’.”(Ariès 158) Às crianças escravas, no entanto, estavam apenas reservados o trabalho, o silêncio, a responsabilidade de um adulto e os castigos.Hábitos e práticas que as aproximavam mais da concepção de infância de outros tempos.
 
 
Notas

1“O caso da vara” está ambientado no contexto da escravidão, segundo o narrador “antes de 1850”, e “Negrinha” não apresenta uma datação específica, mas é dado a entender que trataria de um período logo após a abolição. Sendo assim, o preconceito racial nestes dois contos é menos velado se comparado aos nossos dias. Neste segundo semestre de 2012, foi bastante veiculada pela imprensa uma polêmica envolvendo o texto “Negrinha”. O conto dá título a um livro, também de Monteiro Lobato, que foi adotado pelo MEC com a intenção de ser enviado às escolas públicas. Segundo o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), Monteiro Lobato não teria apenas denunciado o racismo em “Negrinha”, mas ele próprio teria sido racista. Eles baseiam-se em passagens que, realmente, podem ser interpretadas como racistas. No caso do início do conto: “Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados” e ao final: “Depois vala, comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira – uma miséria, trinta quilos mal pesados…”. No entanto, também é preciso levarmos em consideração: 1) Em termos de análise literária, não é muito apropriado confundir narrador e autor. São pessoas diferentes, como costumamos dizer; 2) Neste conto, muito da fala do narrador se mistura à fala dos personagens; 3) Monteiro Lobato é um homem de um outro Brasil e no contexto em que ele nasceu o preconceito racial era, queiramos ou não, muito comum entre intelectuais. Era a regra e não a exceção; 4) Se há preconceito ou não, um bom lugar para discutirmos isto deve ser exatamente na escola. Sendo assim, aqui firmamos nosso posicionamento por sermos contrários a qualquer tipo de censura em relação a obras de arte, meios de comunicação… Ressalta-se ainda que, na Antiguidade, Platão também sugeriu (nos livros III e X de A República) a alteração ou retirada de alguns dos versos da Ilíada e mesmo o próprio Monteiro Lobato já teve, em décadas passadas, seus livros queimados no pátio de uma escola por ser considerado um comunista.

2Para saber mais sobre a psicologia dos personagens e a coerência da ação narrativa neste autor, ver os ensaios “O primo Basílio” e “Instinto de nacionalidade”: ASSIS, J. M. M. de. Obra completa. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1959.

3BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 69, 76-77: “Com muita freqüência, o punctum é um ‘detalhe’[…] […] Assim o detalhe que me interessa não é, ou pelo menos não é rigorosamente, intencional, e provavelmente não é preciso que o seja; ele se encontra no campo da coisa fotografada como um suplemento ao mesmo tempo inevitável e gracioso […] Um detalhe conquista toda a minha leitura; trata-se de uma mutação viva de meu interesse, de uma fulguração. Pela marca de alguma coisa, a foto não é mais qualquer. Essa alguma coisa deu um estalo, provocou em mim um pequeno abalo […]”. Para o trabalho com as imagens, outra obra também propiciou embasamento para esta pesquisa: BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. São Paulo: Edusc, 2004.
 
 
Bibliografía

ARIÈS, Philippe. História Social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

ASSIS, Machado. “O caso da vara”. NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. [2011?]. Unama. 22 de outubro de 2011.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira 1999.

BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

CHIAPPINI, Ligia. “A carreira entre dois tempos – ‘O Negrinho do Pastoreio’ ”. No entretanto dos tempos. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. São Paulo: Edusc, 2004.

GÓES, J. R.; MANOLO, F. Crianças escravas, crianças dos escravos. In: PRIORE, M. D. História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000, p. 185-186.

LOBATO, Monteiro. Negrinha. In: MORICONI, Italo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

PLATÃO. A república. Tradução de Leonel Vallandro. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo:Globo,1964.

SOUZA, M. C. C. C. Decorar, lembrar e repetir: o significado de práticas escolares na escola brasileira do final do século XIX. In: SOUSA, C. P. (Org.) História da Educação: processos, práticas e saberes. São Paulo: Escrituras, 1998.

 
 

'CONVERSANDO COM LUCRÉCIA E NEGRINHA: DOIS CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA NA LITERATURA BRASILEIRA' have 2 comments

  1. August 27, 2022 @ 9:03 pm Julliana

    Trabalho muito legal!

  2. November 21, 2018 @ 1:10 pm Eliana Sisla

    Parabéns pela brilhante análise!


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